sábado, 1 de dezembro de 2012

Gestão e Avaliação da Ciência & Tecnologia


Gestão e Avaliação da Ciência & Tecnologia

O Blog Gestão e Avaliação da Ciência & Tecnologia no Brasil tem a finalidade de estimular cientistas brasileiros a manifestarem suas críticas, opiniões, sugestões, etc, sobre a gestão da Ciência e Tecnologia exercida pelas agências brasileiras de fomento. Minha principal motivação está relacionada à persepção que tenho da crescente, mas pouco manifestada, insatisfação quanto à falta de transparência dos resultados dos investimentos públicos em grandes projetos de C&T no Brasil que geram inúmeras perguntas sem respostas, como:
Por que no Brasil o número de inovações cresce tão pouco se estas são essenciais para o desenvolvimento do país e temos condições de acelerá-las, uma vez que temos crescido cientificamente?
A resposta poderia ser encontrada, se avaliações isentas e competentes fossem feitas, sobretudo para projetos milionários. De certa forma poderíamos dispensá-las para mensurar o desempenho acadêmico, utilizando métodos cientométricos, mas não no campo das inovações.  E importante lembrar que a introdução, a duras penas, do processo de avaliação objetiva, utilizando bancos de dados internacionais, iniciada nos anos 1980, constituiu um parâmetro importante para o grande crescimento do desempenho acadêmico atual, contribuindo para que nossas universidades se aproximassem daquelas das nações mais desenvolvidas tanto na qualidade quanto na quantidade da ciência produzida (Rogerio Meneghini, Ranking Universitário, Folha de São Paulo, 3/09/2012). Entretanto, só isso não basta. É preciso que a comunidade científica e a sociedade conheçam os fundamentos que justificam os megaprojetos e que saibam quais os benefícios efetivamente gerados e de que forma os recursos públicos são administrados.  
A falta de maior transparência na gestão da Ciência e Tecnologia (C&T) no Brasil não nos ajuda a conhecer melhor por que não desenvolvemos quase nenhum produto de nossa biodiversidade, por que não estamos conseguindo reduzir significativamente o pagamento de royalties por tecnologia e materiais importados que poderiam ser fabricados ou inovados no país, por que as parcerias público-privadas, essenciais para o desenvolvimento de muitas inovações, são ainda tão incipientes,  por que a segurança jurídica das patentes aqui geradas podem criar barreiras intransponíveis a negociações,  por que não atraímos de volta cérebros brasileiros e continuamos exportando-os por falta de oportunidades de absorvê-los, etc. Serviria também para entender por que certos cursos universitários de importância fundamental, como a engenharia, por exemplo, têm atraído um número insuficiente de estudantes, por que nossa educação está entre as piores do mundo, entre tantas outras.
A falta de avaliações realizadas com critérios objetivos e a análise das verdadeiras causas de nosso atraso abre espaço para que cabeças iluminadas, com poder de decisão, continuem apoiando investimentos milionários em projetos não realísticos, contando com a parcialidade das avaliações, para esconder os fracassos.
Minha experiência como Diretor de um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP mostrou que um dos principais obstáculos ao cumprimento das metas do complexo projeto que coordenei foi a falta de uma Comissão de Acompanhamento originalmente planejada, a precariedade ou mesmo ausência de avaliações e pereceres aos relatórios anuais, de visitas de assessores, de apoio jurídico/administrativo à parceria público-privada durante minha gestão (2000-2008). Esse projeto que deveria contribuir para reduzir o atraso secular no desenvolvimento de inovações farmacêuticas no Brasil, não poderia ser realizado na forma do `laisser faire`. Tenho levado minhas críticas à consideração da Presidencia da FAPESP e do seu Conselho Superior, mas acho igualmente importante que assuntos como esses sejam discutidos por todos cientistas brasileiros, co-responsáveis por nosso atraso em relação aos paises desenvolvidos, especialmente nas questões de inovação.
Outras questões que mereceriam ser discutidas são, por exemplo:
Quais são as razões que justificariam a administração repassar milhões de reais a projetos mal-avaliados ou não avaliados, quando a mesma administração cobra rigor nos tostões que gastamos?
Podemos acreditar no nosso futuro se a gestão da C&T é praticada de forma cartorial fazendo com que seus pesquisadores temam mais o Diretor Administrativo do que o Diretor Cientifico?
Não seria mais importante para a sociedade ter resultados práticos do conhecimento gerado na economia, na saúde, no bem-estar social, etc, do que ter os relatórios de prestação de contas aprovados pelo Tribunal de Contas?
A insensibilidade com o rigor na utilização e na divulgação das avaliações pelas agências de fomento é um erro grave que tem custado muito caro aos cofres públicos e minado nossa confiança na liderança científica brasileira.
Respostas a essas e outras questões poderiam ser divulgadas aqui e/ou encaminhadas às agências brasileiras de fomento (como já o fiz), recorrendo à Lei 12527/2011, assinada recentemente pela Presidente da Republica.